Uma vila de pescadores com 1500 habitantes disputa o título na Suécia. A ascensão do Mjällby AIF também está relacionada com novas perspetivas.
Sempre ao longo da praia, à esquerda do parque de campismo: quem quiser ir ao estádio do líder da tabela, o Mjällby AIF, na vila piscatória de Hällevik, no sul da Suécia, não precisa de procurar muito. «Jogamos onde o mundo acaba e o mar começa», é a descrição do clube para a sua terra natal, com o belo nome de Strandvallen. Se nada der errado, o Mjällby celebrará exatamente ali, em poucas semanas, o primeiro campeonato totalmente inesperado da história do clube.
Apenas 1485 habitantes vivem em Hällevik, no extremo sul do país, mas parecem ser 10.000 gaivotas. A vizinha Mjällby, que dá nome ao clube, tem apenas 1379 habitantes. E, no entanto, grandes clubes como Malmö FF, AIK Solna ou IFK Göteborg estão atrás do azarão. Desde a vitória por 1 a 0 no fim de semana contra o Halmstad, o Mjällby tem oito pontos de vantagem sobre o segundo colocado, o Hammarby, faltando oito rodadas para o fim do campeonato.
Os principais jogadores da equipa são o atacante Abdoulie Manneh (nove golos), o médio Elliot Stroud — cujo penálti garantiu a vitória contra o Halmstad — e Axel Noren. O defesa-central foi convocado para a seleção sueca em junho de 2025, mas não jogou nem na Hungria nem contra a Argélia. De um modo geral, o Mjällby está bem na frente e atrás: a equipa tem, juntamente com o Hammarby, o melhor ataque (42 golos) e a melhor defesa (16 golos sofridos).
Muitos jogadores moram juntos – assistente técnico em destaque
Difícil de acreditar: Ainda em 2016, o Mjällby só se salvou do rebaixamento para a quarta divisão na última rodada. Então começou a lenta reconstrução – sem investidores, vale ressaltar. A coesão continua a desempenhar um papel decisivo até hoje, com muitos jogadores a viverem juntos numa espécie de residência universitária. «Quando não temos nada para fazer, fazemos churrascos, cozinhamos juntos ou ficamos juntos», disse Stroud à BBC.
Por outro lado, os especialistas em tática consideram o treinador adjunto Karl Marius Aksum um fator decisivo. O técnico de 35 anos fez doutorado sobre percepção visual no futebol e aplica seus conhecimentos em Mjällby. «Ninguém no mundo se dedicou tanto aos movimentos oculares dos jogadores de futebol quanto eu. No futebol moderno, é fundamental recolher informações sobre o ambiente”, diz o norueguês, que em breve quer ser treinador principal de um grande clube. Aksum também tenta otimizar, por exemplo, o movimento ativo da cabeça dos jogadores ao receber a bola, para que possam perceber melhor o ambiente.
Militar, diretor escolar – treinador campeão?
O atual treinador do Mjällby chama-se Anders Torstensson e também tem uma história especial. O sueco serviu dez anos no exército, depois trabalhou como diretor de escola e, finalmente, como treinador no seu antigo clube, o Mjällby. No verão de 2024, foi diagnosticado com leucemia linfática crónica aos 59 anos. «Não é necessário tratamento, por isso vou continuar. Poderia ter sido um diagnóstico 100 vezes pior», diz Torstensson.
E assim, em Hällevik, tudo continua como de costume. Os habitantes da localidade caberiam cinco vezes no estádio Strandvallen, onde, de vez em quando, esquilos correm pelo relvado e causam interrupções. O melhor meio de acesso a esta joia é de carro. Para os adeptos visitantes, há um autocarro que parte a cada duas horas da estação ferroviária de Sölvesborg, passando por Mjällby, e indo diretamente para a paragem «Strandvallen» em Hällevik. «Sveriges vackraste Arena», ou seja, «a arena mais bonita da Suécia», está quase sempre esgotada. Não é de admirar: desde maio de 2024, o Mjällby não perdeu nenhum dos seus 19 jogos em casa.
Se continuar assim, nada impedirá um final feliz. Já foram disputadas 22 jornadas, e na Suécia a temporada decorre ao longo do ano civil e termina em meados de novembro — possivelmente com uma grande sensação.
